segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Porrada": Titãs lota Concha Acústica em show histórico

Quem esteve na Concha Acústica do TCA nesta sexta-feira (13), pôde ver shows inspirados da Cascadura e do Agridoce. Mas a apoteose desta edição de retorno do festival Rock Concha, em Salvador, se deu - pelo menos até agora - na noite deste sábado (14), com as apresentações históricas dos Titãs, comemorando três décadas na estrada com o show do disco mais célebre da banda, 'Cabeça Dinossauro', e dos garotos da Vivendo do Ócio exaltando a Bahia ao lado de Pitty, mostrando que vieram pra ficar no rock BR.
Quem se arrependeu de não ter ido nos dois últimos dias, ainda dá tempo de se redimir. Neste domingo (15), tem mais Rock Concha, com os baianos da Maglore e o cantor Frejat (Barão Vermelho) com o show 'A Tal da Felicidade', às 18h. 
Vivendo do Ócio: show impecável com muitos fãs na plateia

A Vivendo do Ócio - quarteto soteropolitano, radicado em São Paulo - subiu ao palco pouco antes das 19h e foram recebidos por uma plateia eufórica de fãs. "Somos a Vivendo do Ócio de Salvador", vociferou o vocalista Jajá, dando partida ao show.

O grupo formado pelos carismáticos Jajá Cardoso (vocal e guitarra), os  irmãos Luca (baixo) e Davide Bori (guitarra), e o figuraça Dieguito Reis (bateria), fizeram um show maduro e "pra frente", com guitarras em alto e bom som, tocando sucessos dos dois discos de carreira (Nem Sempre Tão Normal e O Pensamento é um Imã) e mostraram porque são considerados por críticos como a "salvação do novo rock brasileiro" ou "uma das melhores bandas de rock dos anos 10 no Brasil".
"... o rock´n´roll também nasce aqui em Salvador, na terra de Raul". Diego Reis (VDO)
Entre os fãs na frente do palco - que sabiam todas as letras - via-se um cartaz feito para a banda e logo na terceira faixa explodiu uma 'roda de pogo' com garotos cheios de energia usando camisas de bandas de diversos estilos como Slayer, Metallica, Raulzito e Red Hot Chilli Peppers. Mas ali todos eram Vivendo do Ócio. 
Jajá Cardoso e Dieguito Reis / Foto: Genilson Coutinho
"Do caralho tocar aqui hoje. Depois de fazer uma turnê pelo interior, agora, nosso dia do rock é hoje; o rock´n´roll também nasce aqui em Salvador, na terra de Raul", comemorava Dieguito, da bateria.

Entre as canções mais aclamadas estavam 'O Mundo é um Parque', 'Meu Precioso', 'Rock Pub Baby' (com direito a uma Concha Acústica berrando o refrão 'Rock´n´roll Baby' puxado por Jajá) e 'Fora Mônica'.

Mas o grande momento do show da VDO veio com a esperada faixa 'Nostalgia' - que em breve terá lançamento do clipe gravado em Salvador por Ricardo Spencer - quando Pitty e o guitarrista Martin se juntaram aos músicos para exaltar a terra natal e celebrar suas vitórias na música brasileira.

"Tudo o que a gente sente está aqui nessa música. É um momento especial", revelou Jajá, antes de convidar a dupla do Agridoce ao palco. "Pra gente é uma honra estar aqui com eles. Esse encontro já tentamos fazer antes, mas nunca dava certo", completou Diego. "Tinha que ser aqui em Salvador", confirmou Pitty, que gravou a música com a Vivendo do Ócio, no último disco do grupo.

"Eu só queria tomar um vento na cara
Me deu saudade da Bahia
Eu só queria passar um tempo lá em casa
Me deu saudade da Bahia
.
Um dia vou voltar
Minhas escolhas me guiaram até aqui
Quando eu retornar é porque eu consegui.
..!"  (trecho da canção 'Nostalgia') 
Com o público já entregue e a Concha quase lotada, o quarteto fez uma homenagem aos Titãs, que viriam logo depois, fazendo uma versão da música '32 Dentes'. E no final tocaram a ótima 'Silas'.
No público, uma garotinha de camiseta rosa e longos cabelos cor de mel, se destacava, cantando as letras da VDO e tocando "air drum" (bateria aérea). O que achou do show da banda baiana? "Amei! Eu adoro a Vivendo do Ócio. Conheci eles ouvindo o CD do meu irmão indo pra escola", contou Júlia Maia, 9 anos, que estava acompanhada do pai orgulhoso. E os Titãs, já ouviu eles? "Não conheço os Titãs ainda. Mas ontem eu assisti o show de Pitty com meu pai", comemorava a pequena roqueira. 
Branco Mello e a trupe dos Titãs evocaram o álbum de 1986, 'Cabeça Dinossauro'.  Foto: Genilson Coutinho
"Titãs! Titãs! Titãs!" 
Público aquecido. Concha lotada. Depois de um breve atraso, lá vinham eles, os herois da noite. Um a um, os Titãs foram entrando ao palco sob uma chuva de aplausos e gritos. Primeiro Tony Beloto (guitarra solo), Mário Fabre (novo baterista) e Sérgio Brito (teclado e voz), depois Paulo Miklos (guitarra e voz) e, por fim, Branco Mello (baixo e voz). Estava formado o quinteto que iria emocionar os baianos naquela noite. E de costas para o público, no centro do palco, o trio de cordas formado por Beloto, Miklos e Mello, puxou o riff poderoso do verso "Cabeça, Cabeça, Cabeça, Dinossauro". Foi o suficiente para o público ir ao delírio! 
Paulo Miklos, Sérgio Brito e Tony Beloto em destaque. 
Foto: Genilson Coutinho 
Cabeça DinossauroO fundo do palco estampava a capa do terceiro disco dos Titãs, de 1986, que mudaria a história do rock brasileiro com suas letras ácidas e músicas de pegada punk, que, numa só tacada, provocava a família, a igreja, o politicamente correto e o capitalismo.

As 13 faixas de Cabeça Dinossauro, incluindo as apoteóticas 'AAUU', 'Polícia', 'Bichos Escrotos', 'Porrada' e 'Família', foram tocadas na íntegra e na sequência para delírio geral da nação titânica de plantão.

Com o contrabaixo para o alto e em pose de rockstar, Branco Mello, que dividiu os vocais com Paulo Miklos e Sérgio Brito, anunciava a viagem no tempo. "Direto de 1986".

E no clima de protesto do show lotado, enquanto no gargarejo garotos eram "catapultados" e passavam voando por cima dos amigos, uma fã não esqueceu de levar um cartaz especial com os dizerem: "Titãs, bem vindos à Bahia onde falta educação e sobra propaganda".
No final da primeira parte do show, que teria três partes e direito a dois 'Bis', Mello saudava o público: "Quanto tempo hein, Salvador? Saudades de vocês. Muito obrigado!"  
Uma fã exibe cartaz de protesto / Foto: Genilson Coutinho
BisDepois de retornarem ao palco sob aplausos - e alguns integrantes de figurino renovado -, os Titãs deram início a um novo passeio musical e tocaram hits de diversos discos com 'Nem Sempre se Pode Ser Deus' e 'Aluga-se', um cover de Raul Seixas, que para alguns foi o começo de uma fase não tão boa da banda, mas que agradou o público baiano em cheio. "É tudo free! Tá na hora! Vamos embora dar lugar pros gringo entrar! Esse imóvel está pra alugar", cantavam os fãs. Outro ponto alto da noite veio com Paulo Miklos comandando o coro "Ôooo, Êeee, ôooo" que antecede a faixa 'Diversão'.
"É muito bom estar nesse palco para comemorar com vocês". Paulo Miklos (Titãs)
"Meus amigos, tá legal ou não tá? 30 anos depois...nesse lugar, onde já tocamos de baixo de 'facas e canivetes'. É muito bom estar nesse palco para comemorar com vocês", brincava Paulo Miklos. E lá se foram mais sucessos de três décadas de carreira. 'A Melhor banda de Todos os Tempos da Última Semana', 'Pulso', 'Será que É Isso Que Eu Necessito?', 'Flores' e encerraram com 'Lugar Nenhum', sob fortes palmas e assovios do público de alma lavada.

Quase 22h, a banda já se despedira pela segunda vez, e na plateia, os fãs ainda pediam mais e sugeriam faixas: 'Comida' ou 'Epitáfio'. Mas a Concha já tinha esgotado seu horário.

Para o shaper e surfista profissional Bruce Kamonk, 39 anos, que gritava "'Comida', tem que tocar 'Comida'", o show foi "uma maravilha". "Muito bom ver que os caras mesmo com a saída de tantos integrantes continuam com a mesma essência. Eram oito antes (com Arnaldo Antunes, Nando Reis, Charles Gavin e Marcelo Fromer), ainda assim esses cinco que permanecem conseguem fazer um show desses!?", resume Bruce.Fonte:Correio24horas